Toda a arte é intuitiva.
Toda a arte é espelho do mundo interno pessoal, nas suas variadas dimensões. Através dela, podemos aceder ao nosso inconsciente.
Para mim, ela não fala apenas sobre nós.
Acredito que cada obra deseja manifestar-se no plano físico e encontra um programa humano compatível que seja passível de a trazer à matéria.
Neste caso concreto, senti um impulso muito forte de pintar algumas “manchas” de cores no meu journal pessoal. Deixei-as a secar por mais de 24 horas.
Com o auxílio de uma caneta POSCA, comecei a traçar doodles aleatoriamente. De repente, comecei a VER rostos e outras figuras concretas em algumas das áreas do papel. Tracei-as.
Comecei a apaixonar-me por esta peça de uma forma visceral. Foi das obras que mais prazer me deu trazer à matéria.
Quando digo que a obra tem vida própria e não é pessoal, é porque vivo esta verdade por experiência própria. Neste caso, VI um sol em frente à figura canina. Mas a minha mente contou-me um historinha e a ideia foi imediatamente fugaz.
“Posso ajudar-te, Mamã?”
“Claro, Filha!”
Momentos depois, a obra era nossa. E que bom que foi criar com a mais velha! Não tardou a desenhar o sol que eu também vira, mas não manifestara. Exatamente no local que eu tinha visionado.
As Crianças têm a enorme capacidade de criar sem filtros, caso não sejam programadas para uma arte estanque, quadrada e cheia de regras.*
A Arte tem um poder curativo gigante!
Através dela, podemos exorcizar a nossa biografia cristalizada na nossa biologia humana, cicatrizando e transformando cada célula em nova matéria.
Sinto-a como uma terapia somática segura, sustentada e eficaz, quando bem conduzida, quer na sanação de traumas, quer no resgate do poder pessoal.**
Deste lado, continuo a criar muito e a ter a arte como Mestre pessoal que me conduz ao centro de mim mesma.
Cíntia Borges
* Vamos abordar este tópico na Formação de Facilitadores de Arte para Crianças
** Vamos aprofundar este tema na Formação em Arte Terapêutica

