A abordagem do trauma nas terapias

Somos uma geração com vários traumas, a vários níveis. Descendemos de Pessoas que tiveram que viver em registo de sobrevivência.
O meu Avô Materno, por exemplo, contava muitas vezes que, em sua casa, “uma sardinha tinha que dar para três” pessoas.
Tenhamos nós vivido em tamanha restrição ou não, todas as experiências de quem nos antecedeu estão vivas em nós. Todos os seus medos e traumas são nossos também. E é aqui que entra o autoconhecimento como oportunidade de cura e transcendência!

Para além dos seus traumas, ao longo do nosso crescimento, vamos colecionando alguns pessoais. Acredito em infâncias felizes, mas não acredito em infâncias imaculadas.
Devido aos traumas, que nos fizeram experienciar sensações de abandono, rejeição, humilhação, traição, injustiça, etc, fechámo-nos ao Outro. Criámos máscaras que nos protegem de voltar a sentir o mesmo.
Mas, se queremos voltar a respirar livremente, precisamos de olhar cada ferida traumática, de forma segura e sustentada.

No Mundo das Terapias, caso o Terapeuta não esteja sensibilizado para as particularidades do trauma, há um risco enorme de retraumatização. Numa tentativa de empoderar, podemos abrir ainda mais o fosso da vergonha, insuficiência, solidão e desesperança no Paciente quem em nós confia.
Acredito que já terei retraumatizado Pessoas, sem ter essa intenção ou consciência.

Nos últimos tempos, aprofundei (e continuo a aprofundar) os meus estudos na área do trauma. E é por isso que o incluirei na Formação em Arte Terapêutica*. Porque nunca sabemos quem temos à nossa frente quando abrimos uma sessão, um círculo ou formação. E precisamos de encarar o trabalho com o Ser Humano com total consciência e seriedade.

Quantas Pessoas vieram até mim retraumatizadas e humilhadas por Terapeutas bem intencionados?
Não sei. Perdi a conta. Sei que foram vezes demais que me fizeram mover no sentido de não lhes seguir as pegadas, aprofundando-me no estudo integral do Ser Humano.

Se queremos O Novo Mundo, precisamos de abrir o cardíaco. E só o faremos se tivermos um espaço seguro para que tal aconteça.

*Nos dias 16 e 17 de setembro, abrirei um espaço seguro, em minha casa, para formar Terapeutas ou Pessoas que queiram levar a Arte Terapêutica a quem dela puder beneficiar. Se sentires que sim, passa a palavra.

Abraço profundo,
Cíntia Borges


Se queremos O Novo Mundo, precisamos de abrir o cardíaco. E só o faremos se tivermos um espaço seguro para que tal aconteça.


2 comentários sobre “A abordagem do trauma nas terapias

  1. Helena Altenburg

    Incrível, querida Cíntia 🩷 falas sobre algo que nunca ouvi falar ainda, e que sinto na pele. Sei que não foi intencional, mas há momentos que as palavras que foram ditas ainda voltam a mim, e me magoam… Senti-me escutada, ao ler as tuas palavras. Grata por criares este espaço em mim 🙏🏻✨ gosto muito de ti 🩷

    1. Cintia Borges

      Não imaginas como fico feliz por te sentir aqui, minha Helena!
      Que privilégio poder tocar-te, tal como o fazes comigo!
      Abraço enorme!
      Te amo

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